sábado, 3 de julho de 2010

4º curso verão Biblioteca Algés - Centro Oeiras a Ler

Violências, Pedagogias e Imaginários






Senti que "os contos e os medos" (oficina que o OFL integrou neste 4º curso de verão sobre violências, pedagogias e imaginários) foi muito bem recebida; as temáticas exploradas suscitaram interesse ao longo das 3h do encontro e diálogo nos momentos de intervalo.
A 2ª parte da oficina, com base na análise acerca dos contos e do tema do luto e da morte, teve como suporte um momento de expressão e reflexão o qual foi realizado utilizando o livro : Didier Lévy, Tiziana Romanin (il), L'Arbre lecteur , Éditions Sarbacanne - Collection Girafon Poche, 2006, Paris. Mesmo perante a morte da árvore leitora, as emoções que emergem nas memórias do menino que com ela interage, fluem neste livro de forma viva e acesa.


A partir daqui, surgiu esta proposta: "Usem o espelho pele (expressão de Joana Cavalcanti acerca da projecção que fazemos sobre o conteúdo do próprio livro) para imaginar que outras memórias poderiam recordar com prazer em relação à árvore leitora; como se estivessem a partilhar essas boas memórias entre todos.

Eis o que surgiu:

"Guardo o som do vento que soprou pelos teus ramos e abriu a minha janela para o mundo"

"Tu que me embalaste nos teus ramos, embala agora os meus sonhos nas tuas páginas"

"Peço licença à árvore para me sentar à sua sombra e recordar o momento em que a plantei, tão pequenina...Agora é ela que me dá abrigo, tal qual como fiz com o meu filho"

"A árvore leitora transmissora de sentimentos e afectos nos momentos que mais precisamos dela"

"Guardo os momentos onde nem eu nem tu falavamos pois tu nunca falaste com palavras, mas entre nós só falavam as palavras do nosso livro, dos nossos livros"

"A tua recordação ajudou a minha educação. Li, vivi, aprendi, chorei, sofri e renasci em ti."

"Ficou a sensação de haver muitas mais árvores leitoras na floresta da promoção da leitura"

"Recordo as cócegas do teu abraço sobre as minhas leituras"

"Gosto de lembrar os momentos em que estava junto de ti e o vento e tu me contavam histórias"

"No outono as suas folhas começavam a cair e eu ficava triste, ela já não era tão bonita. A árvore reparava e dizia: As árvores, ao contrário das pessoas, não têm frio no inverno, assim podem perder alguma da sua roupa. No entanto, como são vaidosas, na Primavera terão de novo folhas. Só temos que esperar uns tempos. Entretanto vamos brincando!"

"Guardo a imagem da minha mãe a afagar os meus cabelos à sombra daquele velho castanheiro."

"O que eu mais gostei foi de comer batatas fritas contigo querida árvore!"

"Que belas horas que passei aqui contigo, nesses momentos de lazer que me pareceram não ter fim..."

"Tenho saudades dos teus longos abraços apertados quando eu sentia medo de algumas palavras"

"As palavras dos meus livros transformaram-se nas palavras do teu livro"

"Sentado na árvore estou mais perto do céu, sinto-me leve e ao mesmo tempo estável"

"Cada folha da tua árvore é uma história lida, um riso e um sorriso, uma lágrima, um sonho, uma gargalhada, uma aventura que vivi e senti à tua sombra."

"Guardo o cheiro das nossas leituras nas longas tardes de verão. As belas histórias que lemos e as aventuras que vivemos irão sempre acompanhar estas páginas deste caderno feito a partir de ti. Até sempre."

"As tuas folhas, por vezes agitadas, pareciam rir-se comigo das histórias que liamos"

"Guardo o cheiro das tuas folhas a espreitarem as páginas dos meus livros."

"O vento a soprar gentilmente entre as tuas folhas, os teus odores, traz-me à memória outras vivências tão intensas como esta que agra sinto e quero partilhar - a minha doce infância, a minha terra distante."

"Dali de cima eu via tudo. Não tinha medo de nada. Ali eu era nuvem, um pássaro, uma folha e às vezes o vento. Ela morreu mas eu continuo a ir lá."



Lamento não ter havido espaço para o co-pensamento nesta 2ª parte, no entanto pela envolvência de cada um destes pensamentos antecipo trocas coesas de vivências. O tema da morte não amedronta o talento maciço das memórias. Nesta árvore, oferecem-se palavras aos imagos internos que ficaram na relação com a árvore leitora (ou com as referências que vamos estruturando prazerosamente por dentro) que jamais morrerão no nosso tecido interno pessoal. A morte é um tema que, abordado simbólicamente, com o holding de um conto, poderá mais facilmente ser verbalizada, e a angustia, associada ao luto, mais tranquilamente superada. As memórias que aqui se soltam, nas frases acima, transportam-nos para outras vivências, para lá do conto, trazem aquilo que de mais seguro temos, os registos internos.

Uma oficina que daria mais algumas horas..
Um abraço a todos os participantes, tive um enorme prazer em estar convosco.

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