terça-feira, 2 de novembro de 2010

"A dois é melhor!"





Amadurece agora um novo projecto integrado no âmbito do Ouvir o Falar das Letras - "A dois é melhor!" - crianças dos 12 aos 36 meses.

Estes ateliers têm como base uma colecção de livros para a infância com o titulo original "À deux, c'est mieux", da autora Isabelle Gilbert, a qual engloba temáticas que fazem parte do desenvolvimento afectivo e emocional e que abraçam as narrativas de uma forma simples e bastante acessível para o público infantil.
A colecção "A dois é melhor!" é uma série de pequenos álbuns publicados pelas Edições Sarbacane em parceria com a Amnistia Internacional. Lily, Tom, Zoé, Paul, Chloé entre outros são um bando de insectos engraçados que vivendo juntos aprendem a cooperar na superação de etapas/momentos inerentes ao processo de maturação da vida.


As histórias seleccionadas remetem para vivências comuns deste público infantil e tornam-se por si só construtoras de vínculos e redes de apoio. A narrativa aliada ao papel do mediador, contentor e fluido seguro do simbolismo da narrativa e das emoções emergentes nestes ateliers permite o desenvolvimento da resiliência pessoal e oferece oportunidades para o conhecimento, permitindo que os participantes reconheçam as suas dificuldades e adversidades bem como as diferentes hipóteses de superação das mesmas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

José Fanha e o Elefante acorrentado



O OFL, numa das suas valências, realiza ateliers com educadoras onde se permite uma troca de afectos e vivências, um mergulho na literatura dita para a infância, transformando-o num momento de riqueza projectiva, de copensamento, de novas perspectivas, de movimentos dinâmicos que fazem pensar e reflectir no âmbito pessoal e profissional.
Hoje explorámos o conto do médico e psicólogo argentino Jorge Bucay "O Elefante acorrentado". Eis um conto que remete para o poder da infância, para a estrutura da personalidade do ser humano, a infância enquanto pilar do processo de escolhas, de ligações, de correntes castradoras, que deixam subliminarmente a ideia de frustração e insucesso. O movimento de esperança cria-se naquilo que nos segredam as pessoas significativas, as que acreditam, aquelas que permitem a mudança, que asseguram um caminho com suporte e pensamento. Nesta sessão foram exploradas diversas temáticas bastante ricas das quais não pretendo fazer um resumo tornando o pensamento fluido de 60 minutos numa frase que se lê em 30 segundos. Deixo sim uma analogia feita por uma das educadoras; um poema de José Fanha partilhado com o grupo, um poema recitado apenas com as ligações internas que fez com ele, sem papel, sem livro, apenas com afecto.


Nós nascemos para ter asas meus amigos.

Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós nascemos para ter asas.

No entanto, em épocas remotas vieram com dedos pesados de ferrugem para gastar as nossas asas assim como se gastam tostões.

Cortaram-nos as asas como se fossemos apenas operários obedientes, estudantes atenciosos, leitores ingénuos de notícias sensacionais, gente pouca, pouca e seca.

Apesar disso, sábios, estudiosos do arco-íris e de coisas transparentes, afirmam que as asas dos homens crescem mesmo depois de cortadas, e, novamente cortadas de novo voltam a ser.
Aceitemos essa hipótese, apesar de não termos dela qualquer confirmação prática.

Por hoje é tudo. Abram as janelas. Podem sair.

José Fanha, 1985, Cartas de Marear

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

OFL em 3 jardins de Infância


O Ouvir o Falar das Letras tem uma casa mãe- Associação de Protecção à Infância da Ajuda (APIA). Os ateliers decorrem como projecto de continuidade na APIA desde 2005 e foi aqui que o seu âmago foi entendido e acolhido pela primeira vez, foi neste espaço igualmente que o OFL deu inicio ao projecto de continuidade sendo desenvolvido com as crianças de todas as salas do Jardim de Infância, em grupos de 12, em ateliers mensais. Na APIA decorre também os ateliers OFL com educadoras.

A Creche Popular de Moscavide veio receber igualmente de forma muito carinhosa este projecto e mantêm-no desde 2007 . O OFL desenvolve os seus ateliers com todas as salas de Jardim de Infância bem como os ateliers com o grupo de educadoras. No ano lectivo 2010/2011 a CPM recebeu o projecto A DOIS É MELHOR - nova iniciativa do OFL, direccionada para crianças dos 12 aos 36 meses de idade.

Em 2010/2011 o projecto OFL, na sua valência de continuidade, abraça mais um Jardim de Infância, "Abrigo Infantil", em Belém. Paralelamente à inauguração da sua biblioteca privada, muito simpática e acolhedora, brinda-se o encontro do OFL com as crianças (dos 3 aos 5 anos) desta Instituição.

O suporte dado às diferentes etapas do processo de desenvolvimento emocional através do conto enriquece todo este processo de amadurecimento interno. Ainda bem que a escola está mais atenta, mais próxima do ser humano que é cada aprendiz.

sábado, 3 de julho de 2010

4º curso verão Biblioteca Algés - Centro Oeiras a Ler

Violências, Pedagogias e Imaginários






Senti que "os contos e os medos" (oficina que o OFL integrou neste 4º curso de verão sobre violências, pedagogias e imaginários) foi muito bem recebida; as temáticas exploradas suscitaram interesse ao longo das 3h do encontro e diálogo nos momentos de intervalo.
A 2ª parte da oficina, com base na análise acerca dos contos e do tema do luto e da morte, teve como suporte um momento de expressão e reflexão o qual foi realizado utilizando o livro : Didier Lévy, Tiziana Romanin (il), L'Arbre lecteur , Éditions Sarbacanne - Collection Girafon Poche, 2006, Paris. Mesmo perante a morte da árvore leitora, as emoções que emergem nas memórias do menino que com ela interage, fluem neste livro de forma viva e acesa.


A partir daqui, surgiu esta proposta: "Usem o espelho pele (expressão de Joana Cavalcanti acerca da projecção que fazemos sobre o conteúdo do próprio livro) para imaginar que outras memórias poderiam recordar com prazer em relação à árvore leitora; como se estivessem a partilhar essas boas memórias entre todos.

Eis o que surgiu:

"Guardo o som do vento que soprou pelos teus ramos e abriu a minha janela para o mundo"

"Tu que me embalaste nos teus ramos, embala agora os meus sonhos nas tuas páginas"

"Peço licença à árvore para me sentar à sua sombra e recordar o momento em que a plantei, tão pequenina...Agora é ela que me dá abrigo, tal qual como fiz com o meu filho"

"A árvore leitora transmissora de sentimentos e afectos nos momentos que mais precisamos dela"

"Guardo os momentos onde nem eu nem tu falavamos pois tu nunca falaste com palavras, mas entre nós só falavam as palavras do nosso livro, dos nossos livros"

"A tua recordação ajudou a minha educação. Li, vivi, aprendi, chorei, sofri e renasci em ti."

"Ficou a sensação de haver muitas mais árvores leitoras na floresta da promoção da leitura"

"Recordo as cócegas do teu abraço sobre as minhas leituras"

"Gosto de lembrar os momentos em que estava junto de ti e o vento e tu me contavam histórias"

"No outono as suas folhas começavam a cair e eu ficava triste, ela já não era tão bonita. A árvore reparava e dizia: As árvores, ao contrário das pessoas, não têm frio no inverno, assim podem perder alguma da sua roupa. No entanto, como são vaidosas, na Primavera terão de novo folhas. Só temos que esperar uns tempos. Entretanto vamos brincando!"

"Guardo a imagem da minha mãe a afagar os meus cabelos à sombra daquele velho castanheiro."

"O que eu mais gostei foi de comer batatas fritas contigo querida árvore!"

"Que belas horas que passei aqui contigo, nesses momentos de lazer que me pareceram não ter fim..."

"Tenho saudades dos teus longos abraços apertados quando eu sentia medo de algumas palavras"

"As palavras dos meus livros transformaram-se nas palavras do teu livro"

"Sentado na árvore estou mais perto do céu, sinto-me leve e ao mesmo tempo estável"

"Cada folha da tua árvore é uma história lida, um riso e um sorriso, uma lágrima, um sonho, uma gargalhada, uma aventura que vivi e senti à tua sombra."

"Guardo o cheiro das nossas leituras nas longas tardes de verão. As belas histórias que lemos e as aventuras que vivemos irão sempre acompanhar estas páginas deste caderno feito a partir de ti. Até sempre."

"As tuas folhas, por vezes agitadas, pareciam rir-se comigo das histórias que liamos"

"Guardo o cheiro das tuas folhas a espreitarem as páginas dos meus livros."

"O vento a soprar gentilmente entre as tuas folhas, os teus odores, traz-me à memória outras vivências tão intensas como esta que agra sinto e quero partilhar - a minha doce infância, a minha terra distante."

"Dali de cima eu via tudo. Não tinha medo de nada. Ali eu era nuvem, um pássaro, uma folha e às vezes o vento. Ela morreu mas eu continuo a ir lá."



Lamento não ter havido espaço para o co-pensamento nesta 2ª parte, no entanto pela envolvência de cada um destes pensamentos antecipo trocas coesas de vivências. O tema da morte não amedronta o talento maciço das memórias. Nesta árvore, oferecem-se palavras aos imagos internos que ficaram na relação com a árvore leitora (ou com as referências que vamos estruturando prazerosamente por dentro) que jamais morrerão no nosso tecido interno pessoal. A morte é um tema que, abordado simbólicamente, com o holding de um conto, poderá mais facilmente ser verbalizada, e a angustia, associada ao luto, mais tranquilamente superada. As memórias que aqui se soltam, nas frases acima, transportam-nos para outras vivências, para lá do conto, trazem aquilo que de mais seguro temos, os registos internos.

Uma oficina que daria mais algumas horas..
Um abraço a todos os participantes, tive um enorme prazer em estar convosco.

domingo, 20 de junho de 2010

O espaço para a palavra

No OFL procura-se que os grupos não ultrapassem as 15 crianças de modo a permitir o fluir da palavra ao longo de todo o atelier. Partilho uma abordagem coerente com esta metodologia, da psiquiatra e psicanalista Annie Birraux, a qual escreveu:

"Expressar verbalmente aquilo que se experiencia, autoriza uma representação já elaborada do seu mundo inteior... A palavra é um instrumento de paz, quando lhe damos tempo para se exteriorzar e para chegar a um acordo com as verdadeiras intenções daquele que fala"

Annie Birraux, Parce qu'il faut bien quitter l'enfance, Éditions de la Martinière, p92

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Onda




Livro: Susy Lee,Onda.Gatafunho.2009.

Um livro sem palavras que nos solta o pensamento e nos faz boiar nas águas ariscas do mar.
Ao molhar o dedo para virar a página sinto o salgado do mar na ponta da língua.
Ao virar a folha ilustrada solta-se uma aragem com cheiro de praia.
Garanto-vos que vejo e ouço o mar como se pudesse mergulhar a mão ao passá-la pelo papel. Está fabuloso, está afoito e terno, convida-nos a arriscar mas também ao prazer da contenção, da segurança, da descoberta e da esperança.

Embora não tenha letras (para as ouvirmos falar e ecoar no nosso pensamento) este livro é daqueles que tem tempo para se sentar connosco, para nos aconchegar enquanto o lemos, enquanto dialoga com o nosso âmago. Aventurei-me a fazê-lo saltar do papel, tinha que fazer parte dos livros seleccionados pelo OFL, os quais considero serem excelentes mediadores do desenvolvimento emocional.

Espreitem um pequeno video realizado a partir do livro aqui

*O grupo na foto é demasiado grande pelo que apenas foi apresentado o conto e não houve os 3 momentos do OFL (conto, expressão, reflexão)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

OFL no curso Violências, Pedagogias e Imaginários…Curso Livre Sobre Contos



O Ouvir o Falar das Letras tem o prazer de se juntar ao Centro Oeiras a Ler em mais um evento promotor do co-pensamento e da partilha de experiências e conhecimentos. Através de diferentes contos que abordam a temática do medo (mesmo simbólicamente) procurarei fazer uma ponte com conteúdos do desenvolvimento emocional e criar uma oficina dinâmica de reflexão acerca das temáticas.

"Positivamente, contar histórias é uma das mais belas ocupações humanas: e a Grécia assim o compreendeu, divinizando Homero que não era mais que um sublime contador de contos da carochinha. Todas as outras ocupações humanas tendem mais ou menos a explorar o homem; só essa de contar histórias se dedica amorosamente a entretê-lo, o que tantas vezes equivale a consolá-lo.” Eça de Queiroz (2000, p.12) "Entreter amorosamente" e "consolar" são duas acções que dão ao conto uma potencialidade quase maternal. Revestir este género literário com as características acima descritas traz ao acto de contar um cariz de vinculação, de relação afectuosa e contentora. É tudo isto que procuro neste encontro.

Inscrevam-se:

Violências, Pedagogias e Imaginários…Curso Livre Sobre Contos

28 de Junho a 03 de Julho de 2010

Centro Oeiras a Ler | Biblioteca Municipal de Algés

Ana Mourato - Os contos e os medos (oficina)

30 de Junho

Informações e inscrições: Biblioteca Municipal de Algés, tel. 214118970, e-mail: marta.silva@cm-oeiras.pt

quinta-feira, 27 de maio de 2010

8º Encontro Nacional de Leitura, Literatura Infantil e Ilustração

O OFL vai estar presente no 8º Encontro Nacional de Leitura, Literatura Infantil e Ilustração na Universidade do Minho com o poster do projecto.


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um presente diferente



livro: Marta Azcona e Rosa Osuna (il). Um presente diferente. kalandraka
Um pano, pode-se transformar num presente fabuloso, invejável e transformador de um momento de frustração.
Este é um exemplo de um comentário de uma criança de 5 anos, no momento de expressão do OFL, o qual deixa claro a pertinência deste conto bem como as identificações e projecções que fez a partir daí.
"Um dia a minha mãe não me deixou ir para a água do mar e fiquei triste durante um bocadinho,mas depois fui apanhar conchas e fazer castelos e tuneis na areia molhada, mesmo perto da água, também foi divertido e já não fiquei triste"
A capacidade de transformação da frustração num momento gratificante e prazeroso não é fácil, requer segurança interna e capacidade de readaptação.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

DGLB recebe o OFL nas Itinerâncias



Elementos do atelier referente ao livro "Orelhas de borboleta" (ver post abaixo)

O Ouvir o Falar das Letras vai estar com o projecto Itinerâncias* nos seguintes locais: Azambuja, Barreiro, Cascais, Chamusca, Mértola, Ponte de Sôr e Torres Novas.

*O OFL participa no projecto Itinerâncias desde 2007.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Abraço com o corpo do conto...


No final de cada atelier, antes de saírem do espaço OFL, as crianças têm um momento de encontro pessoal com o elemento principal do conto (um personagem ou algo simbólico que comunique com o âmago do conto). Neste caso depois do atelier da "Raínha das cores" cada criança teve a oportunidade de abraçar as cores que envolveram a raínha no fim do conto, as mesmas cores que a ajudaram a pintar e a pintar-se. Os olhos de cada criança enchem-se de envolvência, é quase um abraço real com o corpo do conto, observo-os de perto e contribuo para o abraço segurando na personagem e olhando-os nos olhos. É um momento mágico e ternurento, é um momento seguro que pressupõe a triangulação da mediação (eu, o objecto simbólico - o conto e a criança). Nestes momentos fotografo com o olhar, treino o registo interno sentindo e registando o momento. Sinto vontade de partilhar estas cumplicidades triangulares. Vou solicitar a um adulto que fotografe em algumas ocasiões para coleccionar algumas e partilhá-las aqui.





"Orelhas de borboleta". Luisa Aguilar e André Neves (il). 2008. Kalandraka

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Orelhas de borboleta





"Orelhas de borboletas" Luisa Aguilar e André Neves (il).Kalandraka. 2008

Eis um livro fabuloso o qual já foi usado no OFL como mediador do co-pensamento que flui no atelier com as educadoras. Agora vai ser explorado, sentido, vivido e intrusado no plano interno de cada um nos ateliers do Ouvir o Falar das Letras com as crianças. Neste livro estão presentes as relações familiares e sociais, nas suas paginas emerge a forma como são internalizadas e como permitem ao ser humano constituir-se como tal nas relações que estabelece. A magia do adulto-espelho na conquista interna das crianças da sua própria auto-estima, é também aqui enfatizada conseguindo "revolutear sobre a cabeça e pintar as coisas feias de mil cores".

quinta-feira, 4 de março de 2010

Psicólogo como mediador no Ouvir o Falar das Letras

O “Ouvir o Falar das Letras” é um projecto que abraça, através do conto, os conflitos desenvolvimentais integrados no processo de crescimento emocional do humano. Os diálogos internos que estes encontros com as histórias permitem são facilitados, moderados e tornados contentores pelo psicólogo que os desenvolve.

Ao psicólogo/narrador/mediador cabe o papel de facilitar e integrar este momento bem como a passagem à expressão oral e eventualmente escrita do que foi abordado. O OFL é assim um tempo facilitador do pensamento e da livre abordagem de emoções por parte das crianças e profissionais de educação, emoções que nem sempre são fáceis de verbalizar e de conter sem haver um espaço interno de reflexão e elaboração que o permita fazer.

Quando se pensa no OFL como atelier para ser mediado por psicólogos e psicoterapeutas é porque se pensa neste projecto como um todo, onde as estratégias de animação de conto e as técnicas narrativas estão embutidas na metodologia usada com carácter reflexivo, na contextualização teórica e compreensiva do desenvolvimento infantil, bem como no que faz mais sentido explorar em cada período do desenvolvimento.

É através deste conhecimento integrado que se pensam e adequam os ateliers e que se respeita os tempos e comentários das crianças e dos adultos. Fundamentado nos conhecimentos da psicanálise e da psicologia do desenvolvimento, o animador propõe-se conter e desenvolver alguns dos conteúdos abordados pelos grupos com que trabalha. Só o conhecimento dos processos transferenciais, contra-transferenciais e projectivos que surgem nestes encontros (através dos livros seleccionados e respectivas dinâmicas expressivas criadas) se poderá encontrar a compreensibilidade necessária para acompanhar e devolver as problemáticas emergentes nos grupos, adequando as intervenções e a programação dos conteúdos dos ateliers.